segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Mudanças climáticas globais: cenários para o planeta e a Amazônia

Ainda há duvidas que com essas mudanças e aumentos nas frequencia de : chuvas, secas, tornados, neves e toda sorte do azar pelo planeta , não é apenas culpa decorrente de mal uso da natureza por toda população

Artigo para melhor compreenção


Idioma: 
 Português
A questão das mudanças climáticas globais é um dos maiores desafios socioeconômicos e científicos que a humanidade terá que enfrentar ao longo deste século. Os três recentes relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) publicados em 2007 indicam que, do ponto de vista científico, temos mais de 95% de chance de concluir que as mudanças climáticas já estão acontecendo e que são originadas, em grande medida, pelas atividades antropogênicas.

Sabemos, por um lado, que o clima de nosso planeta muda constantemente e a maior parte das mudanças geofísicas ocorre em escalas de tempo de milhares ou milhões de anos. Existem alterações naturais na incidência da radiação solar, pequenas variações na órbita terrestre e erupções vulcânicas que causam variabilidades naturais no clima terrestre em escalas temporais diversas.
 Por Paulo Artaxo*
Entretanto, as pesquisas indicam que as alterações na composição da atmosfera resultantes das atividades humanas ocorrem em um curtíssimo espaço de tempo (entre 100 e 200 anos), em comparação com as escalas temporais geológicas (milhares ou milhões de anos). As mudanças no uso do solo, como a derrubada de florestas e a utilização de agricultura intensiva, adicionam uma problemática ainda mais complexa à questão, como a geração de alterações fundamentais nos ciclos biogeoquímicos, no balanço de radiação e no sistema climático terrestre. A dimensão exata das mudanças climáticas e suas implicações é uma questão complexa e de suma importância no desenvolvimento econômico e social de nosso planeta neste século.


A previsão do futuro

Os modelos climáticos globais podem realizar simulações de como deverá ser a temperatura e o clima de nosso planeta ao longo das próximas décadas ou séculos. Esses modelos têm um alto nível de incerteza, devido ao nosso desconhecimento científico dos processos que regulam o funcionamento do sistema climático global.

Para que seja possível realizar uma simulação do clima futuro, outro ingrediente necessário – para além dos modelos climáticos – é a criação de cenários de emissões de gases de efeito estufa. Tais instrumentos foram desenvolvidos por equipes de cientistas de várias disciplinas, incluindo economistas, e tornaram-se assunto de intenso debate devido à dificuldade intrínseca de saber como serão, de fato, as emissões de carbono daqui a algumas décadas.

O IPCC trabalha com diversos cenários futuros diferenciados. Evidentemente, é muito difícil hoje estabelecer qual deles irá prevalecer. Também é preciso lembrar que eles devem ser utilizados como guia geral e não como valores que serão certamente realizados.

Para a construção dos cenários, o IPCC utilizou simulações produzidas por um grande número de modelos climáticos, com premissas diferentes, para que o conjunto indique as incertezas inerentes no processo de simulação.

O crescimento das emissões varia de acordo com cada cenário, como podemos ver por intermédio das perspectivas de emissão de dióxido de carbono até 2100 utilizados nas simulações climáticas do IPCC em 2007 (figura 1).




Figura 1* 


Perspectivas de emissão de dióxido de carbono nos próximos séculos:



* Os cenários B1 e A1B implicam fortes reduções nas emissões de gases de efeito estufa, enquanto o cenário A2 implica pouca redução nas emissões e o uso intensivo de combustíveis fósseis. A estabilização da concentração de CO2 é diferente para cada cenário: o cenário B1 prevê estabilização em 550ppm; já o cenário A1B, em 700ppm.




A partir dos cenários, podemos calcular a previsão da evolução da temperatura média global ao longo deste século. Sabe-se que, qualquer que seja o quadro futuro, até mesmo se a emissão de gases de efeito estufa for zero, observaríamos um aumento de temperatura da ordem de 0,3 graus centígrados – fruto da inércia do sistema climático.


Diferenças regionais

Se as incertezas são grandes no que diz respeito às estimativas de médias globais, é importante salientar que são ainda maiores quando se produzem avaliações regionais do aumento de temperatura. Os estudos mostram que essa elevação será desigual para as várias regiões do globo. As áreas de altas latitudes (como o Ártico e a Antártica) sofrerão aquecimento mais pronunciado. Por outro lado, as regiões continentais sofrerão aquecimento maior do que as oceânicas.

Em particular, a região ártica poderá se aquecer em torno de 7 graus centígrados ao longo deste século. A América do Sul está sujeita a um aumento de temperatura da ordem de 5 graus centígrados – o que para o ecossistema amazônico poderá significar uma quebra da estabilidade climática. Regiões importantes da África poderão sofrer alterações expressivas, com elevações de temperaturas de 4 a 5 graus centígrados ao longo deste século.


Figura 2*


* Simulação do aumento médio regional de temperatura previsto pelos modelos compilados pelo IPCC para três cenários de emissões diferentes (B1, A1B e A2) e para as escalas temporais de 2020-2029 e 2090-2099.


Devemos ressaltar que, se deixarmos as concentrações de CO2 se estabilizarem somente nos níveis de 800 a 1000 partes por milhão (ppm), a temperatura de equilíbrio pode subir até 6-8 graus centígrados em média. Esses aumentos de temperatura tendem a alterar significativamente o ciclo hidrológico em largas regiões de nosso planeta. Podem causar quedas importantes na taxa de precipitação, afetando áreas como a parte sul da Europa, o sul da África e a parte central da América do Sul na estação seca. Partes da Oceania também deverão ter precipitação reduzida de acordo com os resultados desses modelos. Outras regiões, tais como as regiões de altas latitudes (Sibéria, Canadá e Antártica), deverão sofrer um acentuado aumento da precipitação.

Mudanças climáticas e a região Amazônica

Uma das regiões brasileiras mais sensíveis à questão das mudanças climáticas é a Amazônia. Esse ecossistema tem se mostrado muito menos robusto do que acreditávamos alguns anos atrás e está sob intensa pressão de dois aspectos principais:

  1. O processo desordenado de ocupação com desmatamento acelerado.
  2. As alterações na temperatura e precipitação como resultado das mudanças climáticas.

O primeiro processo foi estudado detalhadamente no experimento do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia – Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia (LBA). Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais estudaram cenários futuros de desmatamento caso as taxas continuem seguindo o padrão atual e as políticas públicas de ocupação continuem as mesmas.



 Áreas desmatadas em vermelho.
Observa-se que a área desmatada com o cenário das políticas atuais poderia chegar a 2.698.735km² (figura 3), o que corresponde a cerca de 45% da Amazônia brasileira. Esse desmatamento tenderia a emitir para a atmosfera cerca de 33 milhões de toneladas de carbono (GtC), o que corresponde a mais de 5 anos de todo o combustível fóssil queimado no planeta.

Em outro cenário possível (figura 4), os pesquisadores apresentaram uma simulação das previsões das regiões que seriam desmatadas até 2050 se uma política efetiva de governança fosse implantada na região Amazônica. A emissão de carbono seria reduzida para 17GtC, e a área desmatada seria da ordem de 1.655.734km². Devemos ressaltar que, mesmo no cenário mais positivo, ainda se prevê um desmatamento expressivo da região.

Os impactos das alterações no clima na Amazônia também são alvo de preocupação dos cientistas, como é o caso de experiência importante realizada pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) por intermédio do trabalho de José Marengo e Carlos Nobre. Os pesquisadores realizaram uma análise conhecida como “downscalling”, que na prática é uma adaptação dos resultados dos modelos do IPCC para o contexto do Brasil.

Do ponto de vista de previsão de temperatura, observamos que no cenário B2 do IPCC (o mais otimista, à esquerda da figura 5), durante o período chuvoso na Amazônia, que vai de dezembro a fevereiro, a temperatura poderia aumentar da ordem de 3-4 graus centígrados em algumas regiões, mas o crescimento médio possivelmente seria da ordem de 2 graus. Para o cenário A2 (que implica pouca redução nas emissões e a continuidade de uso intensivo de combustíveis fósseis e está representado à direita da figura 5), o aumento de temperatura para algumas regiões poderia ser da ordem de 5 a 6 graus – particularmente na região leste da floresta amazônica.










* Simulações de aumento de temperatura no final do século na América do Sul, para o período de dezembro a fevereiro. A figura à esquerda contém os resultados para o cenário B2 do IPCC (mais otimista); a figura à direita, para o cenário A2 do IPCC (mais pessimista).

Esse aumento forte de temperatura tornaria o ecossistema amazônico mais suscetível a queimadas. Por tal razão, algumas regiões da parte leste poderiam sofrer uma perda considerável de área florestal. Com a menor disponibilidade de água, maiores temperaturas e maior evapotranspiração, poderia não ser possível sustentar ecologicamente uma floresta tropical chuvosa. De igual forma, o ecossistema amazônico possivelmente acabaria sofrendo em parte de seu território do leste um processo de “savanização”.

É importante salientar mais uma vez as grandes incertezas inerentes a essas simulações climáticas e seus possíveis efeitos. Os modelos climáticos ainda são bastante limitados e os novos conhecimentos continuamente agregados podem alterar os resultados destes cenários.

* Professor e chefe do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP. Integra o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)

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