A origem da palavra “larápio” é um dos maiores motivos de quebra-pau entre os estudiosos da etimologia. Vale a pena perder algum tempo com o assunto: ainda que a palavra – que, como se sabe, quer dizer ladrão, gatuno – não tivesse triste atualidade, a controvérsia que provocou e ainda provoca seria o bastante para lhe garantir um interesse didático. Especialmente num momento em que certa “etimologia de almanaque”, que privilegia sempre as teses engraçadinhas sem consideração por sua consistência histórica, faz tanto sucesso editorial.
O respeitado etimologista brasileiro Antenor Nascentes foi buscar num livro popular chamado “Frases e curiosidades latinas”, de Arthur Rezende, a seguinte explicação para “larápio”: “Houve em Roma um pretor que dava sentenças favoráveis a quem melhor pagava. Chamava-se ele Lucius Antonius Rufus Appius. Sua rubrica era L.A.R. Appius. Daí chamar-lhe o povo larappius, nome que ficou sinônimo de gatuno”. Hmmm, será? O próprio Nascentes não parece pôr a mão no fogo: encerra o verbete com o famoso dito italiano: “Se non è vero…”. Mas o fato de ter dado abrigo à tese em seu prestigioso “Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa” lhe valeu cascudos de colegas como o português José Pedro Machado e o compatriota Silveira Bueno, que anotou: “A imaginação, em ciência, nem sempre ajuda”.
E o que propõem os críticos de Nascentes no lugar da tese do pretor corrupto? Nada, esse é o problema. “Origem obscura”, diz-se nessas horas. O que pode ser – e é – um jeito mais rigoroso e sério de abordar o problema, mas certamente ajuda a entender o sucesso que fazem historinhas imaginosas como a de “larápio”, passadas de geração em geração. Entre a fria indeterminação e a mentira que consola, a humanidade nunca teve um segundo de dúvida.
Fonte Internet
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